Cadeirante dribla preconceito e sustenta a família como pedreiro

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 5 de abril de 2018 às 13:28
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:39
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Ricardo Ramassoti já construiu 100 casas em Morro Agudo e executa qualquer tarefa em uma obra

Aos 31 anos, Ricardo César Ramassoti é pedreiro, com quatro anos de experiência em
assentar pisos, levantar paredes, reformar sistemas hidráulicos e todo tipo de
serviço em uma obra. Ele se orgulha da profissão que executa em cima de uma
cadeira de rodas.

Sem o movimento das pernas desde os 9, devido a um tratamento contra um
câncer, já construiu cerca de 100 casas com o ofício que herdou do pai e o
ajuda a sustentar a mulher e a filha de 4 anos em Morro Agudo.

Superar
a desconfiança e o preconceito foi apenas uma das batalhas encaradas por
Ramassoti desde criança. Diagnosticado aos 6 anos com câncer, aos 9 foi
submetido a cirurgias que o curaram, mas resultaram na perda dos movimentos das
pernas, na mesma época em que seu pai morreu. “Foi complicado. Entrei em
depressão por causa disso, fazia três meses que meu pai tinha falecido quando
eu fiquei na cadeira de rodas. Muitos problemas de saúde”, lembra.

Aos 16, Ramassoti recuperou-se daquela que considera a fase mais difícil
de sua vida, tempo em que chegou a ficar em coma e, posteriormente, a se
alimentar exclusivamente por sonda.

A partir de então, decidiu encarar o futuro com trabalho. Pelos anos
seguintes foi técnico de informática, montador de móveis e pintor, tudo sobre a
cadeira de rodas, até que a profissão de pedreiro desempenhada pelo saudoso pai
despertou nele a vocação. “Aprendi um pouco com meu pai na infância, porque aos
finais de semana ele levava a gente”, diz.

A porta de entrada para a profissão veio por intermédio do irmão,
Cristiano Ramassoti, que é empreiteiro e confirma a eficiência do pedreiro.

Ricardo Ramassoti confirma fazer de tudo em uma obra, de furar broca e
assentar tijolos, rebocar e subir em andaimes, e que ainda hoje desperta
espanto. “As pessoas desacreditam: mas você consegue? Eu pego e falo: com a
graça de Deus eu consigo sim!”

Assim como com os obstáculos inerentes a qualquer obra e as oito horas
diárias de serviço, o pedreiro também lida com naturalidade com os dez
quilômetros que supera entre as idas e vindas da casa e do trabalho. “Você
entra em um mundo de uma deficiência e precisa aprender a sobreviver naquele
mundo. Tem que se adaptar no dia a dia e, com a graça de Deus, eu soube
aprender a me adaptar nesse mundo”, afirma Ricardo Ramassoti.

Inspirado, o pedreiro afirma estar empolgado com a profissão e com a
possibilidade de sempre aprender uma coisa nova e de se sentir mais próximo do
pai. “Creio que onde ele estiver ele está orgulhoso de mim nesse
momento.”


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