Brasil perde R$ 5,7 bilhões por não reciclar todo lixo plástico produzido ao ano

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  • Publicado em 21 de junho de 2018 às 14:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Em 2018, país vai gerar cerca de 10,5 milhões de toneladas do material – três vezes mais do que café

​Os dados são
alarmantes: o Brasil produz, anualmente, mais de 78,3 milhões de toneladas de
resíduos sólidos, dos quais 13,5% (o equivalente a 10,5 milhões de toneladas)
são de plástico. A quantidade é três vezes maior do que a produção de grãos de
café, um dos principais artigos agrícolas do país, esperada para este ano – 3,4
milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana
(Selurb) estima que se o total desse montante de plástico fosse reciclado,
seria possível retornar para a economia cerca de R$ 5,7 bilhões.¹

“O Brasil
ainda destina inadequadamente cerca de 40% de todo o resíduo gerado no país.
São bilhões de reais que poderiam ser revertidos para a construção ou
modernização de aterros sanitários, ampliação dos serviços de coleta e outras
atividades relacionadas à limpeza urbana. O gerenciamento de resíduos envolve
uma rede complexa de atividades e a reciclagem é um pilar que precisa começar a
ser desenvolvido como oportunidade de negócio. Do contrário, não terá resultado
concreto”,
afirma Marcio
Matheus, presidente do Selurb..

Esses números
refletem uma realidade mundial, na qual o aumento do poder de compra da
população e os altos investimentos em novas fábricas e tecnologias serão
responsáveis por um aumento de cerca de 30% na produção de plástico em menos de
10 anos – resultando, diretamente, em mais lixo.

Por se tratar de
um material de difícil decomposição, o plástico acaba se acumulando na
natureza. Quando a gestão dos resíduos sólidos não existe ou é ineficiente, o
lixo descartado de forma incorreta se acumula nas ruas e lixões e, com a chuva,
acaba alcançando os corpos hídricos. O resultado é inevitável: chegar aos
oceanos. Estimativas da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA)
indicam que, anualmente, 25 milhões de toneladas de lixo chegam ao mar –
segundo a ONU, entre 60% e 80% desse montante é plástico.

“A
maioria da população imagina que as culpadas pelo plástico nos oceanos são as
cidades litorâneas ou embarcações. No entanto, a maior parte da contribuição
vem das diversas cidades que possuem lixões próximos a rios e riachos. Estudos
mostram que cerca de 80% dos resíduos que chegam ao mar vêm de locais distantes
do litoral
“, revela Carlos
Rossin, engenheiro especialista em sustentabilidade e coordenador de diversos
estudos sobre resíduos sólidos.

Segundo ele, para
reverter esse quadro, o Brasil precisa dar um primeiro passo essencial na
gestão de resíduos, que é erradicar os quase três mil lixões existentes no país
e implantar uma rede regionalizada de aterros sanitários, empreendimento
desenvolvido para tratar adequadamente os resíduos.

“Se ilude
quem acha que é possível fazer reciclagem em um país continental sem buscar
soluções de escala. A reciclagem só será possível quando houver viabilidade
econômica, o que inclui incentivos governamentais, com isenções fiscais, e
estrutura logística para tal. A primeira medida é desenvolver soluções
logísticas que concentrem esses materiais, como ecoparques – que apresentam,
também, a estrutura dos aterros legalizados. A partir disso, será possível
diluir os altos custos logísticos e trazer viabilidade econômica para que os
materiais recicláveis cheguem à indústria a um preço atrativo, como aconteceu
nos EUA”,
afirma Rossin, que
foi diretor de Sustentabilidade da PwC e conselheiro do Pacto Global em São
Paulo.

De acordo com o
especialista, o modelo mais adequado ao Brasil é o aplicado hoje nos Estados
Unidos, por ambos serem países de extensão continental, com facilidade em
geração de energia e disponibilidade de grandes espaços, entre outros aspectos
que influenciam a viabilidade econômica das soluções para o setor. Com 20 mil
lixões – praticamente um por cidade – na década de 1960, os Estados Unidos
implementaram 2 mil aterros sanitários regionais em 15 anos e, com isso,
passaram a utilizar a mesma estrutura de tratamento para diversas cidades,
reduzindo os custos logísticos, viabilizando economicamente a reciclagem e a
estruturação de plantas de geração de energia dentro dos aterros.

Dia
Mundial do Meio Ambiente alerta para a questão do plástico

O tema do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano foi “Acabe Com a Poluição Plástica”, em um esforço da Organização
das Nações Unidas – ONU de mobilizar governos, setor privado, comunidades e
indivíduos sobre os perigos do consumo excessivo de produtos plásticos
descartáveis.

Os problemas em
torno da gestão de resíduos têm impactos não só no curto prazo, mas também
comprometem uma série de avanços, como o cumprimento dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) – definidos durante a Cúpula das Nações
Unidas em 2015 e que deveriam ser atingidos até 2030. Considerados por
especialistas o grande desafio dos próximos anos, esses objetivos envolvem a
redução da geração de resíduos por meio de redução, reciclagem e reuso de
materiais, o aumento da conscientização sobre desenvolvimento sustentável e a
redução da poluição marinha, especialmente a advinda de atividades terrestres –
algo que só será possível se governo, iniciativa privada e sociedade atuarem de
forma conjunta.

¹ Cálculo
realizado considerando o montante de plástico destinado inadequadamente por ano
(41,6% do total, segundo Panorama Nacional dos Resíduos Sólidos 2016)
multiplicado pelo preço médio do plástico geral praticado nacionalmente em maio
de 2018 (1,32 reais).


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