BRASIL, CONDENADO À ESPERANÇA?

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de abril de 2016 às 11:24
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:42
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Era 1977, eu tinha ido para o Rio de Janeiro estudar e morava numa pensão em Botafogo com meu amigo Velasquinho. Outro amigo nosso começava naquele ano sua residência médica no Hospital Federal do Servidor. Fomos visitá-lo e ficamos muito impressionados com a estrutura do hospital. Naquela época, 37 salas de cirurgia funcionavam a pleno vapor. O diretor do hospital podia acompanhar todos os procedimentos através de monitores de TV (de tubo e preto e branco, estou falando de 1977), já que em todas as salas câmeras de videotape registravam tudo.

Recentemente encontrei com esse amigo, agora médico já aposentado e que retornou ao Rio para encerrar sua carreira. Perguntei como estava o hospital e ele disse com certa tristeza:

– Virou sucata! Aparelhos de medir pressão arterial precisam ser presos com esparadrapo no braço do paciente, corredores antes impecavelmente limpos estão cheios de gente sem atendimento e as tais salas de cirurgia já não funcionam…

De 1977 para cá, muita coisa mudou: acabou a ditadura militar em 1985 e vivemos desde então um regime democrático, que já não é mais tão recente e nem tão jovem assim. A conclusão é que nenhum presidente eleito pelo povo desde então fez o suficiente e nem mesmo o necessário, nenhum deles devolveu ao povo em forma de estrutura e serviços o monte de impostos arrecadados. Em todos os níveis, nenhum governante fez as reformas prometidas em campanhas eleitorais. Tudo o que depende da ação do Estado míngua. Arrecadação recorde de impostos não faz senão alimentar a corrupção, não serve para melhorar a infraestrutura do país. Municípios endividados, Estados idem, que não conseguem investir em educação, segurança pública e saúde na medida necessária, prestando serviços aos cidadãos conforme manda a constituição. Não estou aqui querendo o fim da democracia, muito pelo contrário: é preciso aprender as lições e fazer as mudanças no sistema visando o seu aperfeiçoamento, para que possamos ter um horizonte.

Vivemos hoje o ápice da incompetência estatal e a pior recessão econômica de nossa história e vai ser difícil e doloroso encontrar outra vez o caminho da prosperidade e do crescimento depois desse verdadeiro furacão que está destruindo nossas maiores empresas, tirando do cidadão o pouco que ele já tinha.

Paulo Rabello no programa Canal Livre da TV Bandeirantes do dia 10 de abril, disse que a retomada do crescimento é impossível, já que esta não é uma crise normal e sim uma crise causada pela destruição de riquezas. Acredito que precisamos aprender e correr contra o tempo para pelo menos tentar recuperar o futuro dos nossos filhos e netos.

Afinal, o tal Brasil que desde moleque acreditei ser o país do futuro precisa mudar e deixar de ser, como disse Millôr Fernandes, apenas “o Brasil condenado à esperança”.

*Esta coluna é semanal e atualizada às segundas-feiras.


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