Agência Espacial e escola desenvolvem tecnologia contra Aedes aegypti

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de outubro de 2018 às 12:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:05
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Equipe está testando como a eletricidade pode ser usada na água para matar larvas do Aedes aegypti

Coletar amostras, fazer testes
e criar hipóteses são rotinas, normalmente, mais associadas ao cotidiano de um
cientista ou estudante universitário. Os termos passaram a fazer parte, também,
de 20 alunos com “altas habilidades” de uma escola pública de Sobradinho,
no Distrito Federal.

O termo se refere às crianças que, na linguagem comum,
são chamadas de “superdotadas”. Na sala de recursos do colégio, os
alunos tentam aperfeiçoar as tecnologias – criadas por eles mesmos – de combate
às larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre
chikungunya e do vírus da zika.

Quem coordena a equipe de jovens cientistas é o biólogo
e professor de robótica Alexandre Zeitune, de 44 anos. Ele dá aulas para as
crianças com altas habilidades desde 2010. O trabalho deu resultado: neste ano,
a turma foi convidada a firmar parceria com a Agência Espacial Brasileira.

Desde setembro, os estudantes
e o tutor deles saem às ruas de Sobradinho II para coletar larvas do mosquito.
Já no laboratório, o banco de dados internacional é abastecido com dados sobre
os insetos, a umidade e a temperatura do ponto de coleta. “Tentamos
desenvolver projetos que minimizem a vida do mosquito e seguimos um protocolo
de análise de águas paradas”, explica. “Fazemos a coleta das larvas
na comunidade e, depois, a identificação do tipo”.

Mesmo com a parceria com a
Agência Especial Brasileira, no dia a dia, é Alexandre quem dá tutoria à
pesquisa dos 20 alunos do projeto de ciências do Centro de Ensino Fundamental
08, em Sobradinho II.

Entre as pesquisas de destaque, uma equipe está testando
como a eletricidade pode ser usada na água para matar larvas do Aedes aegypti.

Em fase de testes, os alunos estão buscando soluções
para atrair o mosquito para a água parada e, assim, estimular choques para
interromper o ciclo de vida. O dispositivo é de custo baixíssimo – capacitores
retirados de sucata – e, quando aperfeiçoado, pode ser produzido em larga
escala.

Superdotação

A turma é considerada “especial” pelo professor. Ao perceber o
interesse dos alunos pela tecnologia, Alexandre decidiu buscar uma nova
formação acadêmica que complementasse a primeira graduação em biologia.

O professor diz que a busca por uma atualização do currículo já era um
desejo, mas se tornou uma “necessidade extrema” conforme o trabalho
ia sendo desenvolvido. Além do conteúdo diretamente relacionado à pesquisa,
Alexandre precisava dominar os temas até para ter “assunto” no
bate-papo com os estudantes.

A dedicação do professor e dos
alunos ultrapassou os experimentos iniciais, e converteu o laboratório até em
uma “consultoria” em tecnologia. “Agora, somos consultados por
empresas brasileiras que querem apresentar produtos de robótica. Os alunos
analisam, e devolvem com sugestões”, conta o professor, orgulhoso.

Um exemplo é a quantidade de prêmios
acumulados pelo grupo. Desde a primeira competição, em 2013, os alunos da sala
de altas habilidades têm sido vitoriosos em eventos como a Olimpíada Brasileira
de Robótica. No ano passado, a equipe conquistou o 3º lugar na edição nacional. 

Resultados para comunidade

Além da consultoria para as empresas, a pesquisa dos alunos
acompanhados por Alexandre começou a se expandir dentro da própria rede de
ensino. O professor contou que a turma foi estimulada a desenvolver tecnologias
para incentivar o ensino de robótica em outros colégios.

Além
dos estudos teóricos, o grupo é estimulado a desenvolver ações de “impacto
e relevância social”. Como resultado, alguns dos próprios alunos de
Alexandre já estão dando “aulas” de robótica para outros colegas do
ensino fundamental. “Isso é uma das nossas grandes vitórias”, diz.


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