A seleção da Argentina e as confusões diplomáticas antes da Copa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de junho de 2018 às 13:52
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:47
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​O primeiro jogo da seleção da Argentina na Copa do Mundo de 2018 será contra a Islândia, no dia 16 de junho. Desde 30 de maio, o time está em Barcelona. Na cidade, treina nas dependências do mesmo clube em que o argentino Lionel Messi é a principal estrela. Mas além das expectativas comuns que rondam a preparação de uma das principais seleções do mundo — como qual será o time titular escalado, lesões de jogadores e o esquema tático —, a equipe argentina se envolveu em questões que extrapolam o futebol.

O conflito Israel-Palestina nas semanas que antecedem o Mundial, as seleções aproveitam para realizar partidas amistosas, como forma de preparar os atletas e fazer ajustes no time. E a Argentina não é exceção: em 29 de maio, jogou contra o Haiti e venceu por 4 a 0, em Buenos Aires. Antes de rumar à Rússia, país-sede da competição, estava planejado um grande desvio de rota: uma viagem na quinta-feira (7) para Israel, onde jogaria contra o time da casa, no último amistoso antes da Copa. As seleções de Israel e do Haiti não se classificaram para o Mundial. E é justamente esse amistoso contra Israel que somou críticas de alguns países. A partida estava planejada para acontecer em Jerusalém, cidade central para disputas políticas em toda a região do Oriente Médio. Depois de pressão política, a seleção argentina cancelou o amistoso.

Para quem foi contra a ida da seleção argentina, o jogo seria uma forma de endossar Israel, que veem como um Estado violento e repressor da população palestina. Os críticos defendem sanções contra Israel, não um evento de visibilidade internacional. Afirmam ainda que o amistoso teria fins políticos, como parte de celebrações pelos 70 anos da fundação do país. O estádio onde ocorreria a partida se localiza numa área onde havia um vilarejo palestino antes de 1948. Os ingressos para a partida esgotaram em poucos minutos de venda. Estava programada ainda uma visita de Lionel Messi ao Muro das Lamentações, na Cidade Velha de Jerusalém. O muro é o monumento mais sagrado para o judaísmo. Messi já esteve no local, em 2013. Antes do cancelamento, o chefe da Associação Palestina de Futebol, Jibril Rajoub, pediu que fãs palestinos queimassem fotos de Messi e camisas com o nome do atacante, caso ele jogasse contra a seleção israelense. Originalmente, o jogo seria na cidade de Haifa, longe da fronteira com a Palestina. O governo israelense apoiou a mudança para Jerusalém. Antes de cancelar o amistoso, a Associação do Futebol Argentino disse que a seleção estava “completamente” alheia às questões políticas entre os dois países e que era um “disparate” a visão de que, por jogar contra Israel, sinaliza apoio a um lado do conflito. Houve um protesto nesta terça-feira (5) em frente ao centro de treinamento onde está a seleção, em Barcelona. Os manifestantes pediam que o time não jogasse o amistoso contra Israel. No mesmo dia à noite, a seleção argentina anunciou o cancelamento. Pesou o receio de que houvesse algum ataque ou hostilidade a Messi ou aos demais atletas, mesmo com pedidos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netaynahu, ao presidente da Argentina, Mauricio Macri, de que o jogo acontecesse.

Tanto Israel quanto a Palestina reivindicam Jerusalém como sua capital. Recentemente, em maio de 2018, os Estados Unidos transferiram sua embaixada em Israel da cidade de Tel Aviv para Jerusalém. Essa medida é vista pela Palestina e por outros países de maioria árabe como uma provocação da maior potência do mundo, dificultando diálogos de paz entre os dois lados. Houve protestos na Palestina e em diversas partes do mundo. No dia da inauguração da embaixada, pelo menos 60 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza por forças israelenses, na região próxima da fronteira. Segundo os manifestantes, foi violência desproporcional. Segundo o governo israelense, foi uma ação legítima para defender o próprio território. Nos dias seguintes, os governos do Paraguai e da Guatemala também transferiram suas embaixadas no país para Jerusalém.

fonte: nexojornal

*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.


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