​A montanha russa da política francana vai revelando quem é quem

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de novembro de 2017 às 10:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:27
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Hoje adversário, amanhã aliado; costuras demonstram que homens públicos abandonam a coerência

Se a prática política causa verdadeiros arrepios no cidadão comum, pode-se dizer que são os próprios políticos que desmoralizam a política, que deveria ser saudável.

É o caso da política francana, que está vivendo uma verdadeira montanha russa nos últimos anos. É difícil saber quem está de um lado, ou de outro.

Quem é oposição ou governo, esquerda ou direita, embora esse conceito esteja ultrapassado.

E isso tem um motivo, que é a constância e velocidade que os homens públicos trocam “de lado” na cidade, aparentemente mais por interesse pessoal que por afinidade de ideias ou interesses programáticos de governo.

São muitos exemplos, mas vamos separar alguns.

Durante a campanha eleitoral, no ano passado, o vereador Corrêa Neves Júnior (PSD) coligou seu partido e fez campanha para o então candidato a prefeito Sidnei Rocha (PSDB), antigo desafeto, mas que nos últimos anos virou pessoa próxima.

Ele defendeu que Sidnei era o melhor para a cidade. Como fez coligação para a eleição, ficou com direito de indicar a vice de Sidnei. Foi escolhida Valéria Marson, que era do partido de Corrêa Neves Júnior, mas hoje trabalha com o governo do PSDB.

Se Sidnei era o melhor, seu concorrente, Gilson de Souza (DEM), não poderia ocupar o mesmo espaço na preferência de Corrêa Júnior.

Não foi a sua opção, nem por um instante. Pelo menos até a apuração se encerrar.

Durante a campanha, foi ferrenho opositor de Gilson de Souza. Com o resultado e a eleição de Gilson, houve uma inversão de papéis.

Sidnei foi deixado de lado e Gilson se tornou o ídolo político do vereador. Tudo muito rápido.

Agora, com menos de um ano de governo, já cansou o discurso de Corrêa Júnior de que “Gilson foi legitimamente eleito por mais de 90 mil francanos”. É fato!

Mas onde está o respeito aos outros 260 mil que não votaram nele para prefeito?

Corrêa Neves Júnior não vai tocar neste assunto e o motivo é simples. Hoje ele é o líder informal de Gilson na Câmara, seu defensor no programa de rádio em que é comentarista, e amigo pessoal, haja vista as reuniões e eventos onde ambos são vistos lado a lado.

A proximidade é tanto que servidores do gabinete de Gilson de Souza e vereadores relatam que Corrêa Júnior não chega ao gabinete do prefeito como todos os vereadores, pelas escadas ou elevador, recepção e tudo mais.

Nem precisa ser anunciado. Ele tem acesso à mesma entrada privativa que Gilson de Souza. Abre a porta da sala do prefeito e passa na frente de quem está esperando. Tem tratamento VIP.

Agora, fica a dúvida: se até nas eleições, Corrêa não tinha o prefeito como opção, não estava alinhado com suas promessas e pensamentos, preferia Sidnei Rocha no cargo, o que o fez mudar tão rápido de opinião?

Na esteira das mudanças de postura, vem o PSDB.

O partido que era concorrente de Gilson de Souza na eleição, em outubro passado, e que, uma vez derrotado, deveria exercer a oposição natural ao homem que derrotou seu colega de partido, está rachado. Dos quatro vereadores, dois viraram base governista, aberta ou implicitamente.

Donizete da Farmácia tem a atenuante de que nunca escondeu sua vocação política para ser base, em razão do trabalho amplamente assistencialista que realiza.

Já Tony Hill começou firme, como fiscalizador e crítico da gestão de Gilson de Souza. Mas, de repente, acenou que poderia mudar.

No projeto de regulamentação dos cargos da Prefeitura, em primeiro turno, votou a favor do governo. 

Depois, no segundo turno, voltou atrás e votou pela rejeição do projeto – que acabou aprovado assim mesmo. A partir de então, voltou a ser oposição e criticou Gilson várias vezes.

Entre seus questionamentos, queria saber a razão de seguidos déficits no fechamento das contas da Prefeitura. Estava certo, pois independente de posicionamento político, é vereador e fiscalizador por natureza do Poder Executivo.

Mas, novamente, Tony Hill puxou o freio e voltou a votar com o governo, mesmo em matérias polêmicas, como na criação de novos cargos comissionados para a Emdef.

Foi firme, votou com Gilson em dois turnos. Virou amigo de infância. Esteve na festa particular do aniversário do prefeito e até cantou algumas músicas.

A base do governo na Câmara e fora dela não se preocupa com vexames. A sessão da Comissão Processante em que foi ouvida a engenheira da Prefeitura, por pouco não se transformou em um grande programa de humor.

Como quem não aceita as regras do jogo, o advogado do prefeito entrou com uma representação na Câmara contra o presidente da Comissão Processante por abuso de autoridade.

Se ainda mantiver os princípios democráticos do seu tempo de militante do PT, no futuro vai se envergonhar de ter assinado esse documento, que tem o objetivo de ser intimidador.

E assim a coisa vai caminhando. Estes são somente alguns de muitos exemplos de que a política, muitas vezes, não é feita à luz do dia, mas que muitos acordos são concretizados na surdina, longe dos holofotes, alheios à transparência, no conforto de alguma varanda, regados a vinho e muito distantes da transparência que se espera dos homens públicos de verdade.

E a montanha russa segue, subindo e descendo, levando a galope o destino do povo francano.


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