A importância e os benefícios da amizade ainda na primeira infância

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de março de 2018 às 02:54
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:37
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Para as crianças, a amizade tem um conceito diferente da amizade dos adultos, mas não menos importante

Quando o assunto são
os amigos, nós, adultos, logo pensamos naquelas pessoas com quem sabemos que
podemos contar nos momentos difíceis e também comemorar nossas vitórias, além
de simplesmente jogar conversa fora e pedir conselhos sobre as coisas mais bobas.
Para as crianças, o conceito de amizade é diferente. Elas não têm essa
profundidade toda de relacionamento, e amigos, para elas, são as outras
crianças com quem podem brincar e explorar novidades com o mesmo entusiasmo.

E é vital estimular que essa interação aconteça.
“Quando o bebê sai da barriga, só tem a mãe. O contato com ela dá as bases dos
relacionamentos futuros e do desenvolvimento das inteligências. Depois vêm a
percepção do colo, da casa e, finalmente, do outro. É aí que entra o processo
de sociabilização com outras crianças”, contextualiza a psicóloga Silvana
Elisabete Moreira, especialista em neurolinguística, focada em orientação
familiar e que atende pela plataforma online de serviços de saúde Doutor 123.

Compreensão da própria existência

Silvana explica que é nas amizades infantis que a
criança testa força e limites, aprende a resolver conflitos e situações que não
ocorrem com os pais ou cuidadores e entende mais sobre ela própria. “Com os
amigos, as regras são diferentes. Os adultos tendem a facilitar a vida dos
pequenos, mas entre iguais não tem isso. Quanto mais a criança interage com
outras do mesmo tamanho, mais preparada estará para a vida adulta”, diz.

A psicóloga e pedagoga Maria Drummond Gruppi, do
Ponto Ômega (berçário e escola de Educação Infantil bilíngue), concorda e
complementa: “O desprendimento é lento, mas é a partir da presença de suas
semelhantes que a criança trabalha o egocentrismo e aprende a viver no mundo
real, que não tem sempre o adulto que a protege.”

Uma das grandes
preocupações dos pais em relação ao comportamento social dos filhos é, sem
dúvida, que eles saibam dividir – brinquedos, lanches, o que for possível – com
outras crianças. O aprendizado dessa habilidade é muito mais fácil quando eles
são seres sociais e têm amiguinhos de brincadeiras e recreação. “Na primeira
infância, a criança é muito egocêntrica, e é natural que seja. Ela quer ficar
grudada com seu brinquedo, por exemplo, e aos poucos aprende a compartilhar,
porque o amiguinho vai lá e toma. No começo, é choro e frustração, mas ela
passa a tolerar essa situação e a ter uma convivência produtiva”, analisa
Maria.

Para Silvana,
enfrentar as frustrações desde cedo é imprescindível para se tornar um jovem e
um adulto confiante: “Se ela é ‘poupada’, vira uma pessoa que não sabe lidar
com a vida. Isso tem se manifestado muito nos jovens, e nos deparamos com cada
vez mais casos de abuso de drogas e depressão.”

Ida à escola

Começar a frequentar uma escola, seja com meses de
vida, no berçário, ou já maiorzinha, no Ensino Infantil, é um passo importante
para a criança fazer suas amizades e vivenciar tudo que estamos discutindo
aqui. As psicólogas Silvana e Maria têm plena convicção disso, mas discordam
quanto à idade em que é melhor fazer a matrícula.

Maria acha que aos 6 meses de vida o bebê já deve
ser colocado em um berçário, para iniciar o convívio. “É quando ele começa a se
reconhecer como independente da mãe. O ideal, nesse ponto, é ficar meio período
na escola e meio período com a pessoa adulta. Dos dois anos em diante, já deve
ficar o máximo possível na escola, para ter uma rotina permeada pelos horários
do sono, das refeições, das atividades”, defende.

Já Silvana considera melhor esperar um pouco mais e
matricular a criança na escola por volta dos 3 anos de idade. Ela justifica:
“Nessa fase, ela já tem mais domínio de suas expressões e mais habilidades
formadas. Antecipar as fases atropela processos neurológicos.” E será que a
falta de um contato diário com outras crianças não fará falta? A psicóloga
especialista em neurolinguística diz que não e sugere alternativas: “Enquanto
isso, ela pode ser levada à pracinha, ao clube para encontrar e interagir com
seus semelhantes, aprender a lidar com o mundo externo.”

A decisão, é claro, fica a cargo de cada família e
suas necessidades.

No meio disso tudo,
mãe e pai precisam entender como se colocar nas novas dinâmicas do filho. Não é
tarefa tão simples: aquele serzinho totalmente dependente deles vai aos poucos
expandir seus círculos, mas deve continuar vendo nos dois sua base de amor e
limites. “A criança tem a necessidade do aconchego doméstico, independentemente
das relações que forme e tenha fora de casa”, afirma Silvana.

O conselho de Maria é que os pais assumam o papel de
espectadores nas novas amizades da primeira infância: “Querer forçar uma
amizade infantil não é prejudicial, mas estressa. É mais produtivo acompanhar
as tentativas de interação e deixar a criança resolver se der certo ou não. E
segurar a ansiedade para não interferir; se os pais sempre entrarem como
intermediários, criam filhos inseguros, que sempre esperarão que alguém
superior resolva seus problemas. A interferência só pode ocorrer se a situação
ficar física e perigosa.”

E, claro, continuar brincando em família em casa e
em situações sociais, como uma ida ao parque, ao shopping, a um restaurante.
Isso é benéfico para pais e filhos sempre.


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