A dieta que promete salvar vidas, o planeta e ainda alimentar a todos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de janeiro de 2019 às 21:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:19
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Pesquisadores dizem que mudanças nos hábitos alimentares vai evitar cerca de 11 milhões de mortes por ano

Cientistas desenvolveram uma
dieta que promete salvar vidas, alimentar 10 bilhões de habitantes e não causar
danos catastróficos ao planeta.

Os pesquisadores estavam tentando descobrir como
alimentar bilhões de pessoas a mais nas próximas décadas.

A resposta para o desafio consta no relatório elaborado
por uma comissão de 37 especialistas de diversas áreas, publicado na revista
científica The Lancet.

Trata-se da “dieta para
saúde planetária” — que não elimina completamente a carne e os laticínios.

Mas requer uma enorme mudança em relação ao que
colocamos em nossos pratos. 

Quais são as mudanças?

Se você come carne todos os dias, então esta é a primeira
questão. No caso da carne vermelha, significa um hambúrguer por semana ou um
bife grande por mês — esta é sua cota.

Em
paralelo, você pode comer algumas porções de peixe e frango por semana. Mas as
verduras e legumes serão a fonte do restante de proteína que seu corpo precisa.

Os pesquisadores recomendam
consumir nozes e uma boa porção de leguminosas (como feijões, grão de bico e
lentilhas) todos os dias.


também um grande incentivo em relação a todas as frutas, verduras e legumes, que
devem representar metade de cada refeição.

Embora
haja restrições para “legumes ricos em amido”, como batata e aipim. 

Como é a dieta?

Veja abaixo o que a dieta
permite comer por dia:

– Nozes: 50g por dia

– Feijão, grão de bico, lentilhas e outras leguminosas:
75g por dia

– Peixe: 28g por dia

– Ovos: 13g por dia (pouco mais de um por semana)

– 5. Carne: 14g de carne vermelha por dia e 29g de
frango por dia

– Carboidratos: 232g por dia de grãos integrais, como
pão e arroz, e 50g por dia de legumes e verduras ricos em amido

– Laticínios: 250g, o equivalente a um copo de leite

– Legumes (300g) e frutas (200g)

Para seguir a ‘dieta para saúde planetária’, você deve
obedecer ao tamanho das porções 

O gosto vai ser horrível?

O professor Walter Willet, um dos pesquisadores da
Universidade de Harvard, nos EUA, diz que não e que, depois de passar a
infância na fazenda, comendo três porções de carne vermelha por dia, agora está
mais que pronto para a dieta da saúde planetária. “Tem uma variedade
enorme. Você pode pegar esses alimentos e combiná-los de milhares de maneiras
diferentes. Não estamos falando de uma dieta de privação aqui, é uma
alimentação saudável que é flexível e agradável”, acrescenta. 

Uma
ilusão?

Este plano requer mudanças de hábitos alimentares em
praticamente todos os cantos do mundo.

A Europa
e a América do Norte precisarão reduzir consideravelmente o consumo de carne
vermelha, enquanto a Ásia Oriental terá que diminuir o consumo de peixe, e a
África será obrigada a cortar legumes ricos em amido. “A humanidade nunca
tentou mudar o sistema alimentar nesta escala e nesta velocidade”, diz
Line Gordon, professora assistente do Centro de Resiliência de Estocolmo, na
Suécia. “Se é ilusão ou não, uma fantasia não precisa ser algo ruim… é
hora de sonhar com um mundo bom”, diz ela.

Segundo os pesquisadores, o
imposto sobre a carne vermelha é uma das muitas medidas que podem ser
necessárias para nos convencer a mudar a dieta. 

Por que precisamos de uma dieta para 10 bilhões de pessoas?

A população mundial chegou a 7 bilhões em 2011 e agora está
em torno de 7,7 bilhões.

Espera-se
que esse número chegue a 10 bilhões por volta de 2050 e continue subindo. 

A dieta vai salvar vidas?

Os pesquisadores dizem que a dieta vai evitar que cerca de 11
milhões de pessoas morram a cada ano.

Este
número se deve em grande parte a doenças relacionadas a dietas pouco saudáveis,
como ataques cardíacos, derrames e alguns tipos de câncer.

Estes
são atualmente os maiores assassinos em países desenvolvidos. 

Qual o impacto da agropecuária?

De acordo com Matt McGrath, correspondente de Meio Ambiente
da BBC, o uso da terra para o cultivo de alimentos e silvicultura corresponde a
cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, quase o
mesmo que a eletricidade e o aquecimento, e substancialmente mais do que de
todos os trens, aviões e automóveis do planeta.

“Quando
você olha mais de perto o impacto ambiental do setor de alimentos, você pode
ver que a carne e os laticínios são fatores primordiais – em todo o mundo, a
pecuária é responsável por entre 14,5% e 18% das emissões de gases de efeito
estufa provocadas por atividades humanas”, acrescenta.

Segundo
ele, a agricultura é um dos principais culpados pelas emissões de metano e
óxido nitroso, que também colaboram para o aquecimento global.

“A agricultura também é
uma fonte significativa de poluição do ar gerada pela amônia nas fazendas, uma
das principais causas das partículas finas, que a Organização Mundial da Saúde
(OMS) diz ser uma ameaça à saúde em todo o mundo.”

“Da
mesma forma, quando se trata da água, a agricultura e a produção de alimentos
são uma grande ameaça, consumindo 70% das fontes globais de água doce para
irrigação”, completa McGrath. 

A dieta planetária vai salvar o planeta?

O objetivo dos pesquisadores é alimentar mais pessoas, ao
mesmo tempo em que: – Minimizam as emissões de gases de efeito estufa que
causam as mudanças climáticas.

– Impedem a extinção de
espécies.

– Não ampliam as terras agrícolas.

– Preservam a água.

No entanto, a mudança na dieta está longe de ser suficiente.

Para
fechar essa equação, também será preciso reduzir à metade o desperdício de
comida e aumentar a quantidade de alimentos produzidos nas terras para cultivo
existentes. 

Por que a carne não está sendo banida?

“Se estivéssemos apenas minimizando os gases do efeito
estufa, diríamos para todo mundo ser vegano”, diz Willet.

Ele
argumenta, no entanto, que não está claro se uma dieta vegana é a opção mais
saudável. 

Qual o próximo passo?

A comissão de especialistas vai apresentar as descobertas a
governos de países do mundo todo, assim como a organizações globais como a OMS,
para ver se podem começar a desenvolver iniciativas capazes de mudar nossos
hábitos alimentares.


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